Há muitos anos que se ouve a
frase “A indústria têxtil não tem futuro em Portugal”. Hoje todos temos que
admitir que as nossas previsões, desde do início da década de 90, estavam
erradas. Hoje, os setores ditos
tradicionais onde se inclui a indústria têxtil e do vestuário é um motor da
nossa economia e que muito tem contribuído para o resultado excecional das
nossas exportações, atingindo pela primeira vez cerca de 40% do PIB. Este setor poderia estar ainda
melhor se não fosse as políticas de alguns governos que nos dirigiram em meados
da primeira década deste novo seculo, que tinham a ambição de tornarem o nosso
Portugal num pais de setores de ponta, de alta tecnologia, eliminando de vez a
aposta nos setores tradicionais onde se inclui o setor têxtil e vestuário. Para
confirmarmos este discurso não precisamos de recuar muito, basta recuar até
2006. Entendo que o nosso caminho pode passar pela nanotecnologia, pelas
especializações, pelos pequenos mercados, mas podemos fazer essa integração com
as empresas que já existem, apoiar na Inovação, no Desenvolvimento, na
Pesquisa, dou o exemplo dos têxteis técnicos que se assumem como uma mais-valia
nas áreas do desporto, da medicina ou do bem-estar, aliando novas ferramentas,
novas matérias-primas com o nosso Know-how no bem-fazer do vestuário. Os últimos números publicados
pela ATP-Associação Têxtil e Vestuário referem que 2013 foi o melhor dos
últimos 5 anos, em termos de exportações do setor têxtil e do vestuário, tendo
sido registado um valor de exportação de 4257 milhões de euros, segundo os
dados divulgados pelo INE. Com um crescimento de 3,5% no total, as exportações
do STV tiveram como destino 184 países distribuídos por todos os continentes. Com
um peso de 18% surgem os países não comunitários, que registaram, em média, os
melhores desempenhos, tendo as exportações para estes mercados crescido quase
9%. Isto significa que mesmo com todas
as contrariedades como a abertura dos mercados em 2005, o acordo multifibras, a
crise do sub prime, a crise das dívidas soberanas, etc., os empresários do têxtil
e do vestuário demonstraram ser capazes de dar a volta. Hoje estão a alcançar
resultados, que nem os mais otimistas imaginavam. Foi com este espirito de
coragem, determinação, iniciativa que apostaram na subida da cadeia de valor
através de conceitos de modernização, inovação, internacionalização, design e
moda, qualidade e um melhor serviço que as empresas adquiriram mais
consistência e que hoje marcam a diferença deste setor e da região do vale do Ave
no mercado global. As empresas souberam-se dar valor
e transmitiram isso para os seus clientes, demonstraram que tem capacidade de
resposta, tem conhecimento técnico, tem qualidade e espirito de sacrifício e
lutador. Mas Portugal também tem que ser
dar Valor, a nossa marca tem que ser mais valorizada e divulgada. Temos que
deixar de ser a cauda dos lamentos, a península de Espanha. Nós somos história,
nós somos o berço, nós trouxemos o mundo ao mundo! E porque é que continuamos
subservientes e ausentes? Onde está o trabalho dos diversos organismos na
divulgação de Portugal? Da nossa língua, que por acaso é a 5.ª língua mais
falada no mundo e a 3.ª mais falada no hemisfério ocidental? Esta valorização é
importantíssima para que os nossos mercados se consolidem, a promoção daquilo
que fazemos, e que o que fazemos é sem dúvida de qualidade, uma mais-valia para
que faça sentido continuar a investir em Portugal e na indústria têxtil e do
vestuário. Por muitos acordos, documentos,
institutos, embaixadas, consulados que possam existir ou ser criados nada disto
faz sentido se aqui, no meio do têxtil, nas nossas empresas, no nosso dia-a-dia
essas tão bonitas ideias e palavras não passarem disso mesmo… É preciso
valorização! É preciso que Portugal seja referencia, é preciso que quando os
empresários invistam numa feira na Alemanha, França, Itália ou até mesmo dos
Estados Unidos a primeira etapa já esteja feita, é preciso que a marca Portugal
fale por si só. Acreditemos que da parte dos
empresários, dos comerciais, da produção, do desenvolvimento e de todos os
departamentos envolvidos o esforço é total. Todos queremos ser bem-sucedidos! Esta coragem, determinação dos
empresários têxteis e do vestuário tiveram e continua a ter uma consequência
positiva para a região e para o pais baixando os níveis de desemprego nesta
região na ordem dos 3% no espaço de um ano e meio criando mais de 10.000 postos
de trabalho. Penso que esta é a hora de olhar
para a indústria têxtil e vestuário de forma a sermos conhecidos como os
melhores, os mais rápidos e os que melhor qualidade têm, mas para isso é
necessário que haja uma forte aposta neste setor ao nível da inovação, da
internacionalização e na melhoria da qualidade, mas sobretudo numa verdadeira
modernização. É preciso auxílio para que essa modernização aconteça, mas isso
não é o suficiente, é necessário também uma aposta numa verdadeira formação
profissional, nomeadamente ao nível dos quadros intermédios, não só pelos
conhecimentos mas também pela confiança e orgulho que transmite a todos aqueles
que fazem da indústria têxtil um motor da economia do vale do ave e do país.
Desta Forma podemos afirmar que o vale do ave é a “Capital do Têxtil e
Vestuário” pelo Know-how desenvolvido e demonstrado, e pela riqueza criada por
todos os agentes deste setor. Vitor Pereira NB - Texto publicado na edição do Povo Livre de 27-07-2016