Ser família e acompanhar e conduzir um adolescente em contexto de pandemia é um desafio sentido por todos.
Nesta conjuntura, todos os membros da família se deparam com variações emocionais, sociais, comportamentais, atitudinais e de valores.
Com o crescimento dos filhos, a dinâmica da família passa a integrar adolescentes e na nossa sociedade, quando falamos de adolescência, surgem opiniões quase sempre direccionadas para etapas de vida muito complicadas. A visão dos pais está associada a estereótipos sociais: os adolescentes são rebeldes, não aceitam a opinião dos mais velhos, querem ser autónomos mas não fazem por isso, … Se pensarmos um pouco, todos já ouvimos falar dessas características que são muito negativistas, pois até as opiniões positivas são referidas em menor escala. Como nos diz J. D. Nasio, “um adolescente é um menino ou menina que cessa gradativamente de ser uma criança e ruma com dificuldade para o adulto que virá a ser”. O adolescente tem um desafio à sua frente em várias vertentes: viver com borbulhas no rosto, crescimento rápido, alterações de humor, dilemas de vestuário, fazer parte do grupo de amigos e ter que actuar como eles. Então onde encaixam os pais nestes dilemas? É na família que os adolescentes têm os exemplos - bons e maus - e é na família que os adolescentes revêm os valores e aprendem a lidar com dúvidas éticas e morais. Se nos primeiros anos, os adolescentes têm dificuldade em perceber os próprios pensamentos, questionam a autoridade sem perceber a perspectiva, dependem muito da aceitação no grupo de amigos; os jovens mais velhos aprendem a colocar hipóteses, são capazes de se desprender do real e raciocinar sem se apoiar em factos, participam nos debates de questões da sociedade. O adolescente precisa, nessa passagem para a vida adulta, de referências que o ajudem a constituir a sua identidade. Os adolescentes ganham segurança se tiverem limites, os pais são as pedras basilares ao construirem os muros que ladeiam o caminho dos seus filhos. Os pais, estando atentos aos sinais dissimulados que os seus filhos lhes transmitem, vão ajustando os muros e vão corrigindo os percursos de vida. Outra dimensão a abordar neste contexto, é precisamente a instalação da pandemia do SARS-CoV-2.
Todos fomos apanhados de surpresa.
Independentemente do tempo de confinamento se ter transformado em momentos de reflexão e ter levado á necessidade de reorganização do dia-a-dia, o voltar às actividades diárias em tempo pós confinamento revelou-se também um período de grandes incertezas. Podem-se criar medos dos vírus e assim sobreviverem numa sociedade que não lhes oferece segurança, ou por outro lado subvalorizar as recomendações superiores, e optarem por comportamentos de risco. A mediação dos comportamentos dos adolescentes, ligados a estes dois extremos, é mais um desafio para os pais, que também estão inseguros quanto à forma de abordar estas novas situações e confrontam-se com comportamentos atípicos dos seus filhos adolescentes. No entanto, tendo sempre estas características presentes, e sabendo que os seus filhos adolescentes necessitam de presença, carinho e paciência, os pais serão excelentes na educação dos seus filhos em tempo de pandemia.
Conceição Reisinho
Artigo escrito no âmbito da iniciativa "Quartas na Sede"