Economia de casino?
20-04-2016
Bem sei que no chorrilho de notícias a que temos sido sujeitos ultimamente há questões importantes que nos vão passando como se já tivessem sido resolvidas. Penso até que algumas dessas notícias sobre questões essenciais do nosso país são colocadas na comunicação social para testar a “opinião pública”, ou seja, a opinião publicada, sobre a sua aceitação. A técnica é: lançar um tema importante antes de outro “fraturante” para que o importante passe para segundo plano e seja até esquecido.
Vem isto a propósito da ideia estruturante para o nosso país de utilizar 1400 milhões de euros no Fundo da Segurança Social para financiar a reabilitação urbana (10% do valor do fundo). A Segurança Social possui cerca de 14 mil milhões de euros num fundo que paga as reformas aos reformados e esse fundo está investido em diversos instrumentos, destacando-se a compra de dívida pública portuguesa. Ou seja, o Fundo de Segurança Social aplicou o seu dinheiro em dívida portuguesa e o Estado pagou por ela cerca de 6% no ano passado.
A diversificação na aplicação dos fundos da Segurança Social é, por princípio, uma boa política. Contudo, quando ouvi esta notícia, pensei: investir no imobiliário? Mas então não foi a bolha do imobiliário em 2008 que criou toda esta crise? Não é o imobiliário um setor de risco?
Procurei perceber como é que os fundos soberanos encaram o investimento no imobiliário e percebi que todos encaram o setor como sendo de risco, pelo que procuram não investir mais do que 5% a 7% em imobiliário.
Surgiram-me então as dúvidas naturais neste tipo de aplicações: que rentabilidade terá? Será aplicado num único fundo? Quem terá acesso ao fundo? Será só para as grandes cidades ou as pequenas e médias também poderão ter direito ao uso deste fundo? Como será feito o seu rateio pelos diversos municípios portugueses? Será que Lisboa e Porto levam tudo e, por exemplo, Famalicão não ficará com direito a receber uma parte do fundo?
Entretanto, estava eu a tentar estruturar o meu pensamento sobre este assunto quando pensei: não será isto a que a extrema esquerda (BE, PCP e PEV) chamava, quando o PSD e o CDS estavam no Governo, de “economia de casino”? Se assim fosse, esta ideia nunca passaria no crivo dos parceiros de coligação do Governo. Pensei mais, eles não seriam tão hipócritas que agora que são a coligação de Governo já não chamariam à aplicação do dinheiro dos contribuintes no imobiliário (classificado pelos fundos soberanos como setor de alto risco) “economia de casino”!
Pelo sim, pelo não, fui à net procurar referências a “economia de casino” e lá encontrei uma explicação da Mariana Mortágua e, claro que sim, se fossem oposição, esta ideia seria apelidada de “economia de casino”.
Pensei cá com os meus botões, não vale a pena pensar muito nisto, porque o BE não deixará passar esta ideia de aplicar o dinheiro dos contribuintes no mercado imobiliário. Mas, eis senão quando leio que o BE classifica este investimento como “bom investimento”.
Bem sei que passar de partido de protesto para de suporte ao Governo traz responsabilidades que levam a apoiar o que antes se criticava, mas também na política a hipocrisia tem limites!
Ex-presidente da secção famalicense do PSD
Vítor Moreira