ALDRABICE. O Governo, com a habitual fanfarronice, garantiu um reforço de 2490 camas para os estudantes universitários. No início do ano letivo anunciou, aparentemente orgulhoso, ter conseguido um reforço de 780 camas, mas que, afinal, como se veio a descobrir, ser apenas de 64. Uma aldrabice, portanto, num Governo que é um mar de aldrabices.
CORRUPCÃO. Várias vezes afirmei que o combate à corrupção não era uma prioridade para o Governo. Evolui nessa opinião. Não é uma prioridade, nem chega a ser uma preocupação. Só assim se explica o facto de, perante a indignação geral, querer facilitar a adjudicação das obras públicas, saltando fases dos procedimentos habituais e diminuindo a sua fiscalização pelo Tribunal de Contas, circunstâncias que facilitam o caminho para a prática de atos de corrupção.
DESCONFORTO. O respeito do PS pelo equilíbrio institucional é pouco mais do que zero. Já o sabíamos. O “despedimento” por telefone do Presidente do Tribunal de Contas está em linha com a substituição de Joana Marques Vidal, como procuradora-geral da República, ou a nomeação de Mário Centeno (ex-ministro das Finanças) para Governador do Banco de Portugal ou, ainda, a colocação de Caldeira Cabral (ex-ministro da Economia), na Autoridade de Supervisão de Seguros. O PS convive mal com a independência dos órgãos de soberania, das entidades de fiscalização e das entidades reguladoras.
SILÊNCIO. Desde o início do ano até agosto, os hospitais do SNS realizaram menos 12,6% de consultas que no ano passado e menos 22% de cirurgias. Estima-se que, até ao final do ano, fiquem por realizar 12 milhões de consultas e cirurgias. Eu sei que por força da pandemia fomos obrigados a fazer uma escolha, provavelmente a única de que dispúnhamos, e ela recaiu na concentração dos meios humanos e materiais ao combate ao surto, sacrificando-se outras necessidades das populações. Mas estamos a pagar um preço elevado. Entre 2 de março e 30 de agosto, houve mais 6.312 óbitos que no período homólogo dos últimos cinco anos e apenas 1.822 foram por covid-19. A perceção dos portugueses não coincide com a realidade, mas não podemos aceitar que estes mortos sejam esquecidos ou que persista a dimensão da despreocupação com estes números. Este silêncio não pode continuar.
Publicado na edição de 07/10/2020 do jornal Cidade Hoje
Por Jorge Paulo Oliveira
Jorge Paulo Oliveira